<$BlogRSDURL$>
AMAC COR DE CINZA
28/03/2004
 
Cores esbatidas de medo
Passava muito tempo a cuidar das alfaces. gostava de me debruçar na terra escura.agarrar-me ao chão. de sentir os joelhos afundarem no macio fértil enquanto analisava cada folha de frescura. Tacteava cada uma com o cuidado da primeira. olhava cada uma com a luz de todo o dia: eram macias,brilhantes, com espessura de vida e cor que desafia o tamanho do céu. não era um verde qualquer, não era: era o de um pensamento tranquilo de alegria. cor viva e clara de um corpo que desconhece o cansaço de pensar, de buscar soluções, resolver problemas.apenas sente as raizes numa terra imensa e as suas folhas num céu infinito.
Tinham um tamanho perfeito. Pequeno suficiente para caberem muitas no meu quintal. a cada uma entregava o amor por uma cor que gostava de ter. por um espaço que lhes gostava de dar. Aquele era o meu reino. lá inundava um verde de luz claro, que não precisava esconder-se no escuro para enfrentar os dias dificeis ou passar despercebido por entre cores esbatidas de medo.
25/03/2004
 
o futuro é incerto
Pan! a porta do carro bate. o seu som é uma mistura de sons secos que se prolongam numa suavidade instantanea e irritante. São 7:30 da manhã.mais coisa menos coisa. Coloco a chave na ignição: gosto de sentir os dois metais a fundirem.slrup a chave é sugada enquanto o radio se liga automaticamente. AUTOMATICAMENTE. taritataniná: sou bombardeado por um spot publicitário. depois: as notícias.
Bla, Bla,Bla, e a "OS ESTADOS UNIDOS NÃO VÃO REDUZIR O SEU ARSENAL NUCLEAR AO NÍVEL INDICADO NO TRATADO ASSINADO HÁ DOIS ANOS COM A RUSSIA, pois querem prevenir-se para um futuro incerto". eles não batem bem. que o futuro é incerto isso não contesto: para além do rádio que liga automaticamente todas as manhãs há já alguns anos. Mas a América está constantemente a preferir um futuro certamente horrível do que um futuro incerto mas possivel. e o que estarão a pensar todos aqueles países que foram obrigados a DESTRUIR os seus armamentos nucleares. Veja-se que o que está em causa nãó é um tratado para a sua destruição mas um tratado para a diminuição de produção: e mesmo este não vai ser cumprido. " GOD SAVE AMERICA". Tenho vergonha de ser um humano, tal como eles.
23/03/2004
 
Começar de novo
Acabei de vir do gabinete de relações internacionais da minha universidade: necessitava ir lá tirar umas dúvidas sobre a burocracia pós Erámisca. Bem, certamente muitos como eu o fizeram também. Talvez a senhora que atende já tenha recebido muita gente como eu: mas. Saberá ela quais são as minhas dúvidas antes de eu as pôr?
Se há coisa que me incomoda é generalizar. Diz-se por aí que não há ninguém igual (não sei se concordarei) mas a grande maioria acredita nisso:mas então porque generalizam sempre as coisas se acreditam que todos somos diferentes? A partir daqui uma conversa torna-se mais dificil, pois para além da dificuldade para expressar a nossa vontade, surge a dificuldade de convencer com quem falo que as minhas duvidas não vão ser as do "man" que veio 10 minutos antes e que por isso tem que me deixar acabar as frases.POR FAVOR.

Entro no gabinete. Ponho uma questão. sinto a conversa logo a tomar uma tonalidade que não quero. as minhas questões não estão a ser respondidas. ouço um relato que não me interessa e afirmações de factos que não sabia existirem. Então particularizo o movimento dos lábios da senhora: movimentos bem definidos, sem receio. E os olhos: não vibram: não exprimem qualquer sensação: olhos de quem está a ver televisão. Respiro fundo. Acentuo o tom da minha voz e com palavras bem pronunciadas e lentas, olho nos olhos e começo de novo.
22/03/2004
 
Corte de faca
Faca. Brilho laminar. de perigo. manteiga que corta em deslizes que sorriem e olhos que cerram num aprofundar de dor. a faca chega ao limite da minha existencia. à minha pele. OUSA penetrar no meu espaço. na minha pele. recusa ser discreta e sem dor. na minha pele: um rasgo sem profundidade nos meus olhos. Não tenho coragem de olhar. Nao quero constatar que existo.que sou vulneravel.

Respiro. respiro: expiro um olhar cruzado de coragem. Isto acontece. AHAH isto acontece.
Olho penetrante a ferida. o rasgo, curto. Fixo os olhos em bordos latejantes e vermelhos que tento unir com o olhar: eu resisto a tudo. em poucos segundos a ferida desaparecerá . Zaz e o sangue parará. Claro que demora uns segundos: os globulos brancos têm que estudar a melhor maneira para proteger o que é meu.
Espero.tic tac. NÃO. e NÃO: continuo a sangrar. ninguém me ajuda. o meu corpo não reage. não luta. não me obdece. o meu pensamento não vale nada no meu sangue.

Mãe arranja-me um penso!

18/03/2004
 
Naquele dia acordei cedo.

Cedo de frio. calcei as meias do dia anterior e a camisa: vesti uma lavada. uma cinzenta a fugir para o claro. da cor do céu desse dia. As calças foram as mesmas de sempre. as mesmas de que não me canso lembrar. Quero um acordar tranquilo.
antes de sair de casa, calço os sapatos cansados de me verem. penso: tenho que pôr uma nota na agenda para me lembrar que preciso de uns sapatos novos. "preciso de uns sapatos novos".
A minha agenda foi a minha ultima aquisição. comprida demais para me caber no bolso. pequena demais para escrever tudo o que queria: Eu não sou perfeito. ou talvez seja completamente imperfeito.
A minha relação com as agendas sempre foi pouco cumplice. Sempre que tinha uma, perdia-a: porque a razão de uma agenda é não ter que estar sempre a pensar no que tenho que fazer.basta ir lá ver de vez enquando e já está. logo recordo. Ora, ao deixar de me preocupar tanto com os meus compromissos também me deixava de preocupar com a minha agenda: e esquecia-me dela. E esquecia-me dela. Mas confesso que não quero acordar todos os dias a pensar o que tenho para fazer nesse dia, no seguinte, depois. Vou tentar bater um record.
15/03/2004
 
Sempre que vou à casa de banho, com a ideia focada num urinar agradável, sou confrontado com uma realidade que ainda me perturba: carregar no descarregador da água. um botão metálico que acciona um descarregar de água fresca e inodora. um botão metálico brilhante que facilmente incrimina dedadas de pessoas diferentes de mim: confesso. nao carrego nesse botão.
Ora um belo dia, ouvi o descarregar da água. tinha sido eu. observei pormenorizadamente o botão de descarga. era uma produção artesanal à moda Portuguesa. feito com um daqueles interruptores de electricidade. mas acreditem: funciona. a minha tão grande proximidade a esses interruptores inconscientemente me impeliu o movimento no seu sentido. tic. xxxxxxx e lá fui embora.confuso.

Powered by Blogger